Com abordagem decolonial, ‘Tawá Tingá: o rio, a cidade e a onça’ demarca o protagonismo feminino nas culturas populares

Foto: Kelton Gomes


A coletiva Casa Moringa estreia nos dias 02 e 03 de dezembro a brincadeira-espetáculo Tawá Tingá: o rio, a cidade e a onça. Através de um processo de criação colaborativo entre mulheres brincantes, o espetáculo reconta a história do povoamento de Taguatinga e da construção de Brasília, a “capital da esperança”. As duas sessões de estreia serão realizadas na Ocupação Cultural Mercado Sul Vive, em Taguatinga, com interpretação em Libras e audiodescrição. A entrada é franca e a classificação é livre. 

Em cena, dezoito mulheres brincantes e suas encantarias realizam um feitio de amarração de fios da história que foram cortados na formação do Distrito Federal. Elas (re)ocupam o território ancestral de “Tawá Tingá” (barro branco, na língua tupi), com um mutirão de reflorestamento do imaginário e de limpeza das águas profundas do rio da memória. Na travessia, vida e morte se encontram para celebrar o nascimento de um povo e de uma brincadeira, sob a proteção da guardiã da floresta: Onça Yayá.

Tawá Tingá: o rio, a cidade e a onça faz parte do projeto de manutenção da coletiva Casa Moringa e conta com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF). A dramaturgia teatral colaborativa é coordenada pela artista Luciana Meireles, criadora do projeto. Inspirado nos formatos de encenação dos folguedos teatrais das culturas populares brasileiras, o enredo traz à cena figuras brincantes concebidas através das histórias de vida e ancestralidades das artistas participantes.

“Recontar a história do nosso território é dar luz às memórias de mulheres trabalhadoras que foram invisibilizadas no projeto moderno de uma cidade construída para pessoas já privilegiadas. Queremos agora protagonizar os sonhos de nossas ancestrais, mulheres migrantes afro-índigenas, ciganas, ribeirinhas, camponesas… gente que dá sustentação pra cidade acontecer. Na brincadeira, reinventamos nossas heroínas, e com alegria e liberdade abrimos espaço para outras narrativas sobre a cultura brasileira”, explica Luciana Meireles.

A direção cênica do espetáculo é assinada pela artista do riso Cibele Mateus, de São Paulo, convidada para contribuir com sua pesquisa voltada às teatralidades decoloniais. A direção musical é de Dessa Ferreira, cantora, compositora e multi-instrumentista nascida no DF. Na produção e técnica, a equipe também é formada majoritariamente por mulheres, que assumem frentes como coordenação, cenografia, figurinos, comunicação e gestão. 

A semente para a criação da mais nova brincadeira-espetáculo da Casa Moringa são as mestras e mestres que movimentam as culturas populares no DF, resistindo frente à cultura de massa com seus mamulengos, capoeira, teatro de terreiro, bumba meu boi e palhaçaria tradicional. Com essa referência, o processo de montagem criou diálogos entre diferentes linguagens e tradições, integrando à preparação da equipe cênica oficinas de percussão, danças populares e poesia, facilitadas por artistas parceiras. 


No rastro da onça e do protagonismo da mulher nas culturas populares

Onça Yayá, figura central do espetáculo Tawá Tingá: o rio, a cidade e a onça, caminha junto às brincadeiras teatrais da Casa Moringa desde 2020. Sua presença é resultado de uma ampla pesquisa por estudos, mitos e referências de tradições que carregam o arquétipo da onça como símbolo de retomada e resistência decolonial, como as oralidades do povo Tikuna, do interior do Maranhão, do povo Xacriabá, do sertão de Minas Gerais, e de brincadeiras tradicionais como o cavalo marinho, o reisado, o samba de roda e a capoeira, onde a onça aparece em bonecos, máscaras e cantigas. 

A pesquisa começou em 2015 com a Oficina Mulheres Brincantes, criada por Luciana Meireles. Em 2019, a oficina cruza com a Mestra Tamatatiua Freire, no projeto Bumba Maria Meu Boi, brincadeira de mulheres inspirada na tradição do Bumba Boi do Maranhão. No mesmo ano, a coletiva realiza o 1º Festival Solares Brincantes, revelando a necessidade de um brinquedo que demarque a diversidade de gêneros nas culturas populares. Em 2021, a Caravana das Alembranças enraíza ainda mais a pesquisa, com artistas do DF indo ao encontro de mestras brincantes na Bahia, Pernambuco e Maranhão.

Foto: Cled Pereira


Sobre a Casa Moringa

Coletiva de brincadeiras e teatro popular, com 12 anos de atuação no Distrito Federal. Um ponto de memória e cultura composto por artistas e educadoras mulheres e pessoas lgbtqiapn+. Fruto do Movimento Nacional de Pontos de Cultura, da Escola de Formação em Pedagogia Griô e do Mercado Sul de Taguatinga, propõe uma comunicação entre as tradições ancestrais, tecnologias, ciências e artes contemporâneas, brasis profundos, periferias e centros, através de uma abordagem criativa, vivencial e colaborativa.


SERVIÇO
Tawá Tingá: o rio, a cidade e a onça – sessões de estreia


QUANDO:
– 02 de dezembro (sab): 20h
– 03 de dezembro (dom): 17h
ONDE: Mercado Sul de Taguatinga – QSB 12/13, Taguatinga Sul
ENTRADA: franca
Espaço sujeito à lotação, recomendável chegar 15 minutos antes
ACESSIBILIDADE: Libras e Audiodescrição
REDES: www.instagram.com/casamoringaoficial@casamoringaoficial
SITE: www.casamoringa.com.br 


FICHA TÉCNICA

– Concepção e coordenação geral: Luciana Meireles
– Direção cênica: Cibele Mateus
– Direção musical: Andressa Ferreira
– Coordenação de criação colaborativa de dramaturgia: Luciana Meireles
– Atrizes brincantes e criadoras de figuras: Luciana Meireles, Nara Oliveira, Rayane Santos, Barbara Ramalho, Lua Cavalcante, Flavia Aguiar, Tamara Marques, Rebecca Torquato, Nathalia Honorato, Rayla Costa, Dielle Mendes, Larissa Liberato, Jacyara Tonhá, Kamilla Kelly, Nara Codo, Yvonne Lira, Nina Nuvem, Laíza Almeida.
– Artistas brincantes convidadas: Diangala (Regina Salgado) e Fabíola Resende
– Mestras convidadas: Tete Alcandida e Nen Rocha
– Coordenação de pesquisa e processo criativo para cenários e figurinos: Lua Cavalcante
– Coordenação de comunicação e assessoria de imprensa: Keyane Dias
– Coordenação administrativa: Alessandra Rosa – Roseira Produções
– Coordenação de montagem de evento: Guilherme Azevedo e Arsenal do Gueto
– Produção Executiva: Rayla Costa
– Consultoria de Produção: Luciana Celestino
– Assistentes de produção: Ramona Jucá
– Projeto gráfico: Nara Oliveira
– Gestão de redes sociais : Aracely Silva
– Pesquisa e redação: Luanna Ferreira e Keyane Dias
– Registro audiovisual: Farid Abdelnour e Raissa Miah
– Fotografia: Aracely Silva, Raissa Miah e Davi Mello
– Consultoria de figurinos: Tamara Marques e Nara Oliveira
– Figurinista e costureira: Nem Rocha
– Criação de estandartes: Nara Oliveira
– Cenografia e adereços: Lua Cavalcante, Tete Alcândida, Virgílio Mota, Dielle Mendes, Nina Nuvem e Chris Arts
– Oficina de dança popular: Letícia Coralina
– Assistente de direção musical: Laíza Almeida
– Musicista convidada: Carol Carneiro
– Oficina de Percussão: Lirys Catarina
– Oficina de Máscaras: Tete Alcandida
– Audiodescrição: Lúcia Corrêa
– Interpretação em Libras: Gustavo Lopes e Raquel Almeida