Arte e Manha do Mamulengo narra a versão contada pelos mestres de tradição, revelando nossa herança afro-brasileira que a história oficial não contou

Foto: Davi Mello

O Teatro Popular de Bonecos do Nordeste, também conhecido como Mamulengo, é patrimônio cultural imaterial brasileiro. Seu reconhecimento pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, em 2015, é cercado de pesquisas acadêmicas e documentos que traçam recortes importantes, mas não conseguem acessar a gênese da tradição que segue viva, expressando a história, a cultura e a formação do povo brasileiro.

Recontando versões narradas pelos próprios mestres e mestras da tradição, o brincante Chico Simões lança no dia 7 de dezembro o livro Arte e Manha do Mamulengo. Será às 19h, em live ao vivo no instagram @mamulengo.presepada. Com ilustrações da artista plástica Anna Göbel, a obra ficcional apresenta uma versão diferente da dita história oficial. Nela, a irreverência encarnada nos bonecos nasce como invenção de africanos escravizados em uma fazenda no interior do Nordeste, para contestar as relações de desigualdade social a que eram submetidos.

Arte e Manha do Mamulengo será lançado em formato tradicional impresso, em braile e virtual. Os exemplares impressos serão doados para bibliotecas públicas e comunitárias, espaços culturais e escolas do Distrito Federal. Os pedidos podem ser realizados até o dia 4 de dezembro, pelo e-mail camaleaocultural@gmail.com. Já a versão virtual da obra estará disponível no site www.mamulengopresepada.com.br, a partir do dia 7 de dezembro. 


Escrever para recontar a nossa história
“Esse é um livro de um contador de histórias, não de um escritor”, afirma Chico Simões. E para escrever Arte e Manha do Mamulengo, o brincante toma como principal referência a tradição oral, nas diversas narrativas que ouviu de mestres e mestras em seus mais de 40 anos como mamulengueiro. Também se referencia nos livros Fisionomia e Espírito do Mamulengo, de Hermilo Borba Filho, e O Mundo Mágico do João Redondo, de Altimar Pimentel, onde a versão popular e suas variações foram registradas, ainda carecendo de documentos oficiais. 

Recontando a história, Chico acrescenta mais um ponto nesse conto ficcional que virou livro, buscando repercutir a importância de revisarmos a história não contada, especialmente sobre a nossa herança africana: “Temos uma dívida imensa com a cultura e o povo afro-brasileiro, por tudo que foi negado e por toda a violência que foi e ainda é praticada. Eu não sou um escritor, mas escrevo pela necessidade de deixar registrada essa visão de mundo diferente da visão eurocêntrica, uma contribuição para as gerações futuras e presentes”.

Sinopse – Arte e Manha do Mamulengo
Chico Simões afirma: “eu não sou escritor”. Mas de tanto ouvir, contar e fazer parte das histórias, tomou vontade de escrevê-las. No fantástico mundo de São Saruê, de onde vem toda inspiração, Arte e Manha do Mamulengo fala sobre a gênese do Teatro de Bonecos Popular do Nordeste. Ouvindo a memória dos próprios mestres mamulengueiros, Chico traz em seu primeiro livro o gosto do Brasil afro, a memória da cana do engenho moída com suor e sangue dos trabalhadores escravizados, que mesmo vivendo em situações de opressão e violência souberam manter viva sua cultura, seu ritmo, sua esperança e bom humor. Quando Chico conta esse conto, acrescenta uns pontos de vista, de interrogação e de reticências, convidando leitores e leitoras a também acrescentarem seus pontos para que essa nossa história, que não é do nunca, se reinvente e nunca tenha fim.

Chico Simões
Brincante, fundador do grupo Mamulengo Presepada. Chico Simões se encantou pelos bonecos populares entre 1980 e 1985, quando viajou pelo Nordeste convivendo com mamulengueiros, como Carlos Babau, do Carroça de Mamulengos (CE); Chico de Daniel (RN); Joaquim do Babau (PB); Mestre Solón; Mestre Zé Lopes; e Mestre Zé de Vina (PE). Com a arte mamulengueira, anda pelo Brasil e o mundo. Deu curso na Escola de Guaratteli, em Nápoli (Itália), e estudou na Escola Internacional de Teatro Antropológico – ISTA (Dinamarca) e no Centro Dramático de Évora (Portugal). Foi estudante convidado da Universidade de Berkeley, da Universidade de UFFON e da Universidade de Connecticut (EUA). É também fundador do Ponto de Cultura Invenção Brasileira, em Taguatinga (DF), e da Vila Mamulengo, em Olhos D’água (GO). Segue brincando onde povo está e escrevendo artigos sobre o teatro de bonecos tradicional.

Anna Göbel
Artista plástica, professora, ilustradora, autora de livros infantojuvenis, muralista e produtora cultural. Anna Göbel é alemã nascida na Espanha e criada na Argentina. Desde 1995 mora no Brasil, habitando o Mar das Montanhas de Minas Gerais. Sua iniciação nas artes deu-se na busca por liberdade, quando seus pais, tendo vivenciado a intolerância na Alemanha da Segunda Guerra Mundial, viajaram mundo afora com seus cinco filhos. Com os pés no mundo, Anna conheceu diferentes culturas e apaixonou-se pelas festas populares e as artes plásticas, encontrando nos livros infantis uma nova forma de espalhar suas criações. É formada na Universidade Nacional de Belas Artes “Prilidiano Pueyrredón”, em Buenos Aires, com especialidade em gravura e desenho. Realizou exposições individuais e coletivas no Brasil, Alemanha, Argentina e Chile. Na literatura, Anna Gobel ilustrou importantes autores brasileiros e publicou 15 livros autorais, explorando também a escrita. Nos últimos anos, dedica-se à pintura mural em comunidades, ilustrando nas paredes os sonhos, a história e a cultura do lugar.

SERVIÇO
Lançamento do livro Arte e Manha do Mamulengo
Quando: Segunda, 7 de dezembro de 2020
Horário: 19h
Onde: @mamulengo.presepada – www.instagram.com/mamulengo.presepada
Acesse ao livro virtual em: www.mamulengopresepada.com.br