Realizado no formato virtual, direto da Casa do Cantador, encontro reunirá show e oficina do mestre e apresentações de três grupos locais 
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Foto: Toni Braga

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Com origens árabes e precursora do violino, a rabeca chegou ao Brasil durante o processo de colonização e aqui se integrou a várias manifestações tradicionais do país, de Norte a Sul. Está presente no fandango caiçara, nas folias de reis mineiras, no reisado cearense, na musicalidade do povo guarani, no forró de rabeca, no cavalo marinho pernambucano e tantas outras. Onde quer que o arco toque as cordas de uma rabeca, o encantamento está aberto.

E é mergulhando nesse universo de infinitas memórias e sonoridades que o grupo brasiliense Raiz de Macaúba realiza o 2º Encontro de Rabecas. Dessa vez no formato online e com gravações que ocuparam a Casa do Cantador, em Ceilândia, o encontro será lançado no sábado, dia 28 de agosto. As transmissões serão pelo no canal do Encontro de Rabecas no Youtube, com shows a partir das 19h e Oficina de Rabeca de Cavalo Marinho às 9h. 

No palco virtual, o grupo anfitrião Raiz de Macaúba convida os grupos As Fulô do Cerrado e Os Gitiranas para abrir a roda para o mestre Luiz Paixão, atração nacional que se apresenta diretamente de Pernambuco. O encontro traz ainda a participação do mamulengueiro Chico Simões, como mestre de cerimônia. Toda a programação terá tradução em Libras e ficará disponível na íntegra, posteriormente. 

Seu Luiz Paixão é reconhecido internacionalmente como um dos mais consagrados mestres rabequeiros do Brasil, sendo uma das principais referências do grupo Raiz de Macaúba. No encontro, é o mestre quem ministra a Oficina de Rabeca de Cavalo Marinho, compartilhando saberes sobre o instrumento a partir de suas vivências como brincante na tradição do Cavalo Marinho.

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Oficina de Rabeca de Cavalo Marinho
Composto por elementos como música, poesia, coreografias e performances dramáticas do teatro de terreiro, o Cavalo Marinho é um tradicional folguedo da Zona da Mata Norte Pernambucana, reconhecido como patrimônio cultural brasileiro pelo Iphan. É brincado especialmente no período entre o Natal e o Dia de Reis. No “banco”, onde ficam os músicos que embalam a brincadeira, a rabeca tem presença de destaque. A partir deste universo, Mestre Luiz Paixão irá abordar composição, afinação, tipos de rabeca, exercícios, escala, toadas e baiões de Cavalo Marinho. Uma oficina que repassa às novas gerações saberes de tradição oral exercidos há mais de 100 anos por Seu Luiz e seus parentes e ancestrais brincantes.

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Origens da Rabeca
A rabeca é um instrumento de arco, ancestral ao violino, e encontrado em vários países desde a Idade Média, tendo similares no Norte da África, na Pérsia, na Índia e em outros territórios. Com origens árabes, espalhou-se pela Península Ibérica a partir dos mouros, chegando no Brasil com o processo de colonização. Conta-se que sua chegada deu-se com a catequização jesuítica. O que se sabe, com certeza, é que aqui foi recriada no encontro entre povos originários, afrodiaspóricos, árabes, ciganos e europeus, se disseminando nas camadas populares e nos interiores do Brasil. Ao contrário da erudição do violino, é tradicionalmente produzida de forma artesanal por mestres que tocam e fabricam o próprio instrumento, especialmente em comunidades rurais. 

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ATRAÇÃO NACIONAL – Mestre Luiz Paixão (PE)

Dos canaviais pernambucanos, com destaque os da mata norte, brotam homens que transformam suas ásperas e difíceis vidas em poesia sonora, oral ou visual. É desse chão que vem o Mestre Luiz Paixão. Nascido no engenho Palmeira, em Aliança, neto, sobrinho e primo de ilustres rabequeiros, iniciou seu aprendizado com a rabeca e o Cavalo Marinho aos 8 anos, junto com a vida de camponês. Mas foi de seu avô Manoel Alves que aprendeu as escalas e os movimentos. Aos 13 anos, iniciou sua trajetória musical e aos 15 assumiu a rabeca do banco de Cavalo Marinho do lendário Mestre Batista, bem como o forró e o coco das noites de festa pelos engenhos da mata de Pernambuco e Paraíba.

Seu estilo único, vigoroso, sonoridade ímpar e cristalina, preenchida e executada com três dedos (uma acidente, ainda jovem, imobilizou seu dedo mindinho esquerdo), graduou o Mestre Paixão como um dos mais importantes rabequeiros do Brasil. É mestre de vários músicos nacionais e internacionais, como Siba, Maciel Salu, Renata Rosa e Nicolas Krassik. Na sua trajetória, participou de encontros e festivais de música no Brasil e no exterior, tendo se apresentado no Congresso de Etnomusicologia da Flórida, em 1999, representando a rabeca do Brasil. Além de participações em vários álbuns, lançou os cds solo: Pimenta com Pitu, a Arte da Rebeca e Forró de Rabeca.

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GRUPO ANFITRIÃO – Raiz de Macaúba

Formado em 2017, Raiz de Macaúba firma o ponto no Forró de Rabeca, ao mesmo tempo em que passeia por diferentes vertentes da cultura popular, reinventando as tradições com um olhar moderno. Em sua formação atual, Daniel Carvalho (rabeca e voz), Layza Cristiane (percussão e voz), Fernando Fernandes (violão) e Pedro Tupã (percussão) realizam uma viagem pela música e literatura dos grandes mestres populares brasileiros, por meio da lírica de uma rabeca e muito batuque. O grupo possui um álbum instrumental gravado, onde reúne intensas pesquisas da cultura popular brasileira, com a participação do mestre Seu Luiz Paixão (PE) e influências de Jackson do Pandeiro, Família Salustiano e Mestre Ambrósio.

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GRUPOS LOCAIS CONVIDADOS

As Fulô do Cerrado
Sob a sombra das árvores da Universidade de Brasília e da união de cinco mulheres fascinadas pelas histórias musicadas por mestres e mestras da cultura popular brasileira, surge a banda “As Fulô do Cerrado”. Inspiradas pelos ensinos de Mestre Zé do Pife e pelo dever de dar visibilidade às mulheres em espaços artísticos, há quatro anos impulsionam o cenário musical do Distrito Federal com forró, baião, xaxado e frevo, unindo pífanos, rabeca e sanfona para criar a mistura “rala-bucho” do som encantado das Fulô desse Cerrado.

Os Gitiranas
O grupo Gitiranas tem como objetivo a disseminação da música instrumental nordestina e a perpetuação do movimento do violino popular. Carrega como marca registrada o encontro sonoro entre a visão de Ariano Suassuna (defensor do uso de instrumentos eruditos na cultura nordestina) e as ideias de Chico Science (inovador por inserir instrumentos elétricos na execução de ritmos nordestinos), provando que ambos estavam certos.

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SERVIÇO
2º Encontro de Rabecas – Online
28 de agosto (sábado)
Transmissão pelo canal Encontro de Rabecas no Youtube
Link: https://bit.ly/youtubeencontroderabecas
9h: Oficina de Rabeca de Cavalo Marinho com Mestre Luiz Paixão
19h: Show com Raiz de Macaúba
20h: Show com Os Gitiranas
21h: Show com As Fulô do Cerrado
22h: Show com Mestre Luiz Paixão

Gratuito
Classificação: Livre